A partir de um excerto do conto Viagem , de Sophia de Mello Breyner Andresen dei a seguinte proposta de escrita:
A Vida levantou-se mais cedo do que o costume, acordou o Luz e foi abrir as portas ao Caminho. Quando as abriu, apareceu a Encruzilhada…
... que levaria a Vida ao seu destino.
Um caminho da Encruzilhada estava guarnecido de faixas brancas, enquanto noutros, de aspeto solitário e triste, o Caminho se arranja com árvores negras, mortas de tristeza. A Vida, que estava no auge da sua juventude e que era dotada de um humor sem precedentes, optou pelo "pimponete". Cantava uma vez e saia-lhe da frente um dos caminhos negros – o da direita. Cantava novamente e saia-lhe o branco, o seu pretendido.
O que a Vida observava, no seu trajeto, era o derradeiro antónimo da sua vida de infância: por onde quer que olhasse uma espessa névoa negra encarregava-se de lhe ocultar a visão. Limitada a olhar para o chão, para não se perder, a Vida lá seguia.
Já a Manhã carregava no seu colo as dez horas, quando, de repente, toda a vida existente começava a murchar.
Como é que os pequenos organismos da Terra podem viver sem a Vida, sendo esta um pilar tão importante para o Mundo?
Sem saber de nada, a Vida vagueava. De repente, a névoa dissipa-se e uma placa surge na sua frente. Era uma placa de madeira negra que continha uma pequena informação feita por alguém que tinha passado por lá. Esta dizia: " Olha em tua volta, /nada acontece/se em ti houver revolta, / e o caminho desaparece". Depois de lida a última letra um fio se estende à sua frente e, como por magia, este fio se transformava em dois portões que se abriam, revelando uma extensa escadaria, contornada por um fundo de nuvens e luz.
Quando a Vida coloca o pé no primeiro degrau, sentiu-se diferente. Foi como se alguém lhe depositasse um bocado da sua confiança e bondade no seu coração.
A Vida, alegre por ver e sentir os raios de sol a bater-lhe nas costas, começou a correr. Quando chegou ao meio da escadaria e começou a avistar o fim desta, reparou que a sua vestimenta se transformava. As mangas do seu vestido eram de ouro e o resto de um marfim imponente.
Surpreendentemente, estas roupas pesadas não abrandavam o ritmo da Vida.
O último degrau mostrou o cimo da escadaria, que dava para uma pequena planície de nuvens. Ao fundo, encontrava-se um trono, no qual um velho de grandes barbas brancas descansava - era o Caminho.
Quando a Vida se aproximou, o Caminho, com voz abafada, disse "Desculpa...".
O que se passou para além desta palavra não fazia diferença. O criador das vias, das estradas de terra que trespassavam a floresta morrera ali, naquele momento.
Lágrimas escorriam da Vida. Junto do trono uma lágrima caíra devagar na cabeça do Caminho. Logo, adveio um acontecimento fantástico. O Caminho começou a diminuir de tamanho e forma. Transformou-se numa réplica da Vida. Lembrava-se de tudo e sabia tudo.
Sem nada a temer, os dois amigos correram em direção à Terra. Passaram pela floresta negra e depois pela Encruzilhada. Quando saíram daquele submundo já não reconheciam a Terra. Esta tinha-se transformado totalmente numa floresta negra.
A Vida colocou um pé e, rapidamente, onde ela pisara germinaram plantas. A marca da sua pegada se expandiu a um ritmo alucinante, até que cobriu todo o globo.
Algum tempo depois, pequenos animais surgiam. Mais tarde os elefantes de África vagueavam em manada.
Tudo o que aconteceu desde que a Vida abrira os portões é passado... um passado que, ainda hoje, leva a Vida a abraçar o seu Caminho.
Trabalho de escrita da ficha de trabalho individual, Armando Dias
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